O CAMELÔ
Tatiane Batista Macedo
Acorda, João,
Já passa das cinco.
O relógio não pára, a vida não pára.
É hora de ir para a vinte e cinco,
Vender as mercadorias
Que, com os únicos centavos e tantos esforços, acabou de comprar.
No corre-corre, no grita-grita:
— Três por um real!
João nem se dá conta
Que, às suas costas,
O policial durante a ronda
Leva as mercadorias.
João, e agora?
E agora, João?
Como comprará o leite da Gabriela,
O pão do Pedro,
A saia da Maria?
E agora, João?
Como pagará o aluguel ao seu Manuel?
João, e agora?
Os policiais ainda amarram os sacos.
João volta.
Não pode.
João pega.
Não dá!
João é impedido.
Não pode! Não pega! Não dá!
Corre, corre agora?
E o leite e o aluguel e a saia e o pão?
Não posso, não dá.
No corre-corre, no grita-grita,
O único som: uma lágrima caindo...
Publicado em www.dedic.com.br
http://www.eja.org.br/cadernosdeeja/empregoetrabalho/et_txt23.php?acao3_cod0=1a67a7b8ac45962bb6cf269bf142884c
Muito interessante este texto é a nossa realidade.
ResponderExcluirGostei muito.
Oi, eu sou a autora deste texto! Realmente eu presenciei um fato na rua 25 de março que me fez chorar... O fato era com um camelô que encontrava-se desesperado por ter perdido sua mercadoria e a partir de então resolvi escrever este poema.
ResponderExcluirAbraços!
Tatiane Batista Macedo